O Slipknot entrou para a história do Rock in Rio no dia 25 de setembro, depois de realizar um dos shows mais incríveis de todas as edições do festival. Brutal, insano e perturbador são alguns dos adjetivos que podem ser aplicados à apresentação que a banda norte-americana de metal pesado fez naquele domingo, saciando a vontade dos fãs, que foram presenteados por grandes shows na Noite do Metal, a que mais honrou o nome do festival, tão criticado pelo line-up tão distante do rock and roll.
Para quem estava na Cidade do Rock havia três sentimentos relacionados ao show do Slipknot antes da banda pisar no palco: que o grupo deveria tocar antes do Motörhead por uma questão de respeito à história ao grupo de Lemmy; que seria um momento histórico para a banda, tocando para 100 mil pessoas, quase um ano e meio depois da morte do baixista Paul Gray; e que o show seria uma verdadeira prova de resistência física, tamanha a energia que ele costuma despertar.
Terminado o bom show dos veteranos do Motörhead, começou a crescer a ansiedade para o show do Slipknot. Os fãs da banda, em sua maioria bem mais novos que os que esperavam pela apresentação do Metallica, começavam a tomar seu postos e o sentimento predominante era de que não restaria pedra sobre pedra na Cidade do Rock após a apresentação do grupo mascarado. Para quem, como este editor, estava conquistando território para chegar o mais perto possível do Metallica, não havia como voltar atrás; e o negócio era mesmo suportar a muvuca que começava a se formar.
Após cerca de 30 minutos para os acertos dos instrumentos e do palco, o Slipknot subiu ao palco com um cenário de fundo que lembrava o fim do mundo. Ao som da introdução que juntou os temas “Iowa” e “742617000027”, um a um dos integrantes era focalizado pelas câmeras. Aquele som agudo e a imagem de cada músico mascarado e vestido com macacões vermelhos anunciavam que o negócio ia complicar para quem estava na pista.
Logo de cara, o DJ Sid Wilson (o mascarado de número 0), tentou pular sobre o público que estava mais perto do palco. O guitarrista Mick Thomsom (membro de número 7) andava com seu instrumento de um lado para o outro, mostrando que estava impaciente. O vocalista Corey Taylor (membro de número oito) olhava fixamente para a plateia, como se quisesse encarar todos para uma briga. O baterista Joey Jordison (membro de número 1), dava pancadas rápidas na bateria que aumentavam a angústia do público…
Na pista, começavam a pipocar ondas de empurra-empurra que se intensificariam com o começo da primeira música da noite: “(sic)”, do álbum “Slipknot”, de 1999. A partir daquele momento, um “salve-se quem puder” se instalou na pista e o melhor que cada um poderia fazer era tomar o máximo de cuidado para não errar o passo durante o empurra-empurra, caso contrário um pisoteamento seria inevitável.
“Eyeless”, ”Wait and Bleed”, ”The Blister Exists”, ”Liberate”, ”Before I Forget”, ”Pulse Of The Maggots”, “Disasterpiece”, “Psychosocial” e ”The Heretic Anthem”. Todos os petardos foram executados com a mais pura animosidade e quase não havia tempo para um descanso, para um respiro…
Este que vos escreve já tem anos de show nas costas, frequentando apresentações das mais pesadas desde o final dos Anos 80. Na memória, há shows brutais e pesadíssimos que jamais saíram da cabeça, como os do Ramones, do Sepultura, do Pantera, do Napalm Death e do Slayer, entre outros…Em todos eles, o instinto de sobrevivência foi necessário, mas a diferença destes shows para o do Slipknot estava nas dimensões, já que as apresentações insanas das bandas citadas aconteceram em lugares para, no máximo 7 mil pessoas. No caso do Rock in Rio, eram “só” 100 mil pessoas.
Quem assistiu ao show pela TV ficou impressionado (para o bem) com o Slipknot e com a brutalidade do show. Este sentimento foi gerado até mesmo em algumas pessoas que não gostam de metal e a banda dos mascarados foi tema das diversas discussões depois do fim de semana. Mas só um detalhe: a apresentação pela TV não captou 10% do que foi visto ao vivo na Cidade do Rock.
Além da brutalidade, a hipnose gerada pela banda saltou aos olhos. O vocalista Corey Taylor tem uma capacidade de persuasão assustadora e tinha todas as ordens atendidas pelo público como se as pessoas fossem simples marionetes. Se ele pedisse para que todos quebrassem a Cidade do Rock, seria atendido. E quem estivesse assistindo ao show pela TV era capaz de quebrar a sala…
Um certo cansaço gerado pela necessidade de se equilibrar e pular ao mesmo tempo já começava a subir pelo corpo, mas o show ainda entraria em seu momento apoteótico. O começo deste momento foi visto no hit “Duality”, quando o DJ Sid Wilson atravessou a parte central da pista que ligava o palco à torre de som. Ele simplesmente escalou o house mix (lugar reservado para a equipe técnica) e deu um histório stage diving de uma altura de 4 metros para delírio da Cidade do Rock. Não bastasse o trabalho que já estava dando aos seguranças, o DJ subiu de novo para o house mix e pulou de novo, novamente de costas!
Corey Taylor deixava claro que estava impressionado com a energia do público, mas disse que, para entrar na história, a plateia ainda tinha que fazer algo. Interessante que a cada frase terminada do vocalista, o baterista Joey Jordison agitava os bumbos, num complemento àquela verdadeira aula de hipnose.
O grupo iniciou outro hit, “Spit It Out”, e, na metade da música, Taylor deu inicio ao tradicional momento em que faz com que todos os presentes se agachem, para depois pularem juntos quando é dito a palavra “jumpdafuckup”. Ele foi seguido por boa parte do público e, quando houve o pulo geral, a Cidade do Rock virou uma insanidade com várias rodas de mosh gigantes que se transformavam num movimento quase único, fazendo com que todos se sentissem num caos generalizado, que seria impulsionado pela execução da pesadíssima música “People = Shit”.
Na sequência, Taylor agradeceu ao público e disse que nunca iria esquecer aquela noite. Foi quando a banda iniciou a última música da noite: “Surffancing”. A porradaria comeu solta e, quando todos pensavam que já haviam visto todas as loucuras possíveis, eis que a bateria de Joey Jordison começou a subir e girar. Mais do que isso, ela começou a ser virada para baixo, num momento histórico do Rock in Rio que jamais será esquecido, com Jordison ficando praticamente de cabeça para baixo e tocando ao mesmo tempo!!!
Ao final do show, o sentimento generalizado era de que todos haviam presenciado um show antológico e que o Metallica teria até problemas para superá-lo, tamanha a repercussão entre todos os presentes. O próprio Slipknot tinha noção do que havia realizado e os membros da banda se abraçaram felizes no palco, para depois distribuírem palhetas e baquetas à plateia.
Para relembrar este show histórico do Slipknot, o Roque Reverso descolou alguns vídeos do YouTube. Inicialmente, fique com a abertura e a música “(sic)”. Depois, reviva os momentos apoteóticos com “Duality” e, num vídeo só, “Spit It Out”, “People = Shit” e “Surfacing”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário